O ex-primeiro-ministro israelense Ariel Sharon foi transferido nesta sexta-feira do hospital onde é mantido vivo com a ajuda de aparelhos desde 2006, quando um derrame o deixou em estado de coma profundo, para a fazenda da família, perto da Faixa de Gaza.
A UTI móvel que transportou Sharon chegou nas primeiras horas da manhã desta sexta à fazenda Sicomoros, no sul de Israel.
Shlomo Noy, chefe da unidade de reabilitação do Hospital de Sheba, perto de Tel Aviv, disse que o ex-premier, de 82 anos, deve retornar ao centro médico no domingo.
A experiência será repetida algumas vezes, para garantir que Sharon pode ser tratado em casa permanentemente.
"É um processo gradual, quando um hospital transfere um paciente crônico para casa", explicou Noy em entrevista à rádio pública israelense.
"É um processo estruturado, no qual você precisa se certificar de que o suporte médico e o ambiente no qual o paciente será instalado permanentemente é adequado".
A adaptação deve incluir três ou quatro visitas de 48 horas cada, durante as quais uma equipe do hospital supervisionará o leito montado em sua casa.
No dia 4 de janeiro de 2006, o premier sofreu um forte derrame e entrou num coma profundo, do qual nunca acordou, deixando para trás um grave vácuo político do qual Israel até hoje tenta se recuperar.
Sharon entrou em coma cinco meses depois de uma radical virada em sua trajetória, quando retirou todos os colonos judeus e tropas da Faixa de Gaza após 38 anos de ocupação.
Desde então, no entanto, os esforços de paz foram em vão. No fim de 2008, Israel lançou uma forte ofensiva contra o movimento radical Hamas na Faixa de Gaza, em represália aos mísseis lançados por seus militantes contra o território israelense.
Uma nova iniciativa de diálogo teve início há seis semanas, mas o impasse acerca dos assentamentos judaicos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental bloquearam as negociações.
Segundo o médico, pacientes na condição de Sharon ficam melhores internados nas próprias casas, em um ambiente familiar, do que em um hospital. No entanto, destacou que não se deve esperar uma melhora de seu quadro clínico.
"Obviamente, por trás deste movimento há uma esperança de que ele fique melhor lá", indicou. "Se ele vai se recuperar ou não é outra questão".
Pouco tempo antes de sofrer o derrame, Sharon reconhecera que não estava seguindo à risca as recomendações médicas para perder peso e diminuir o ritmo de trabalho.
O ex-premier se levantava cedo, trabalhava até tarde e fazia viagens ao exterior com frequência, em particular para os Estados Unidos, cujo voo partindo de Israel leva 12 horas.
Em novembro de 2005, ele deixou o partido Likud, que ajudara a fundar em 1973, e criou uma nova formação de centro, o Kadima.
A decisão foi uma resposta à ala linha dura do Likud, que o criticou por ter saído de Gaza.
"Arik", como é conhecido em Israel, foi eleito premier pela primeira vez em 2001, depois da polêmica visita à Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, que deu origem à segunda intifada palestina meses depois.
Sharon nasceu em 1928, quando Israel ainda era protetorado britânico, e começou sua carreira militar aos 17. Destacou-se nos campos de batalha logo após a fundação do Estado de Israel, quando das primeiras guerras contra os países árabes.
Como ministro da Defesa, planejou a invasão do Líbano, em 1982, e o cerco ao quartel-general da Organização pela Libertação da Palestina (OLP), de Yasser Arafat, em Beirute.
No ano seguinte, caiu em desgraça após ter sido considerado "indiretamente responsável" pelo massacre nos campos de refugiados palestinos de Sabra e Shatila, no Líbano, perpetrado por cristãos falangistas, que eram aliados de Israel na guerra.
Graças a este episódio, Sharon ganhou de seus detratores o apelido de "Açougueiro de Beirute".
Aos poucos, recuperou sua reputação e retornou à vida pública, até tornar-se líder do Likud em 2000 e assumir a chefia do governo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário